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ENTREVISTA - SÉRGIO PAIVA

Sérgio Paiva, 70 anos de idade, natural de Lourosa, apresenta-se como um dos maiores nomes dos ralis em Portugal. Multifacetado na sua carreira, conta com inúmeras participações em
provas como circuitos de velocidade, karting, todo-o-terreno (muitas ao lado e uma ao volante), ralis (à direita e como piloto), perícias, rampas e até hovercraft, mas foi como
navegador de ralis que a sua brilhante carreira se notabilizou.


São, até agora 340 ralis feitos na “arte de cantar notas” com pilotos tão distintos como Fernando Bernardes, Rufino Fontes, José Pedro Fontes, Rui Lages, João Andrade, “Mex” ou Pedro Matos Chaves com quem amealhou dois títulos de Campeão Nacional de Ralis nas temporadas de 1999 e 2000 entre os imensos resultados dignos de destaque, como outros
títulos, ao longo dos 51 anos de carreira deste popular professor do 1º Ciclo residente em Vila
do Conde durante trinta e oito anos e agora numa freguesia a norte de Arcos de Valdevez. Fez também 34 ralis como piloto.


No 30º aniversário do nosso “Suplemento Especial do Rali de Portugal”, fomos conhecer um pouco melhor uma das personagens mais marcantes da história do automobilismo português.


AM-Motores (AMM): Conte-nos um pouco da sua história. Como nasce a paixão pelos
automóveis e pelas corridas?


Sérgio Paiva (SP): Em criança, o meu pai teve um Hillman Minx Saloon de 1948 que comprou
ao “Amigo Velho”, Senhor Fontes, pai do Rufino e avô do Zé Pedro e, quando o motor se cansou, adquiriu outro numa sucata; dos dois, eu ajudei-o a fazer um que funcionasse.
Comecei a perceber a mecânica e o nome das peças que compunham aquele “relógio”. Por
vezes, guiava aquele carrinho ao colo do meu pai e, lembro-me bem ainda hoje, quando
seguíamos para a terra da minha mãe, Arouca, na zona se Cabeçais e à saída de uma curva para a direita, ultrapassei um carro muito lento que ia à nossa frente a estorvar! O meu pai gostou e elogiou muito essa manobra e, talvez por isso, o “bichinho” nasceu.


AMM: E a sua estreia dá-se em que circunstâncias? Foi “obra do acaso” ou tinha esse sonho de vir a participar nas competições?


SP: É claro que eu gostava de guiar, mas era impossível fazê-lo; eu estudava no Colégio de
Ermesinde (interno a meu pedido) e os meus pais, mesmo que pudessem, acho que não me
iriam ajudar. Em 1972 eu era frequentador do Café/Restaurante Piscinas de Lourosa, como
outros amigos, nomeadamente o Fernando Bernardes e o Rufino Fontes. Todos gostávamos de
desporto automóvel (nesse ano e em 73 fui, de autocarro e comboio, ver o Circuito de Vila do
Conde e, de boleia, a Vila Real) e, como no início do ano seguinte, havia o Campeonato de
Iniciados, pensámos participar. O Rufino iria com o seu cunhado, Valdemar Guimarães, eu com o Fernando Bernardes e ainda outra equipa formada pelo “Quinzinho” e o Alberto Lima.
Seríamos três duplas de Lourosa. Acabámos por ver essa tripla de duplas ser reduzida para uma, a nossa; comecei com o Fernando. O Rufino começaria apenas em 74, numa altura em
que o Campeonato foi no fim do ano.


AMM: Recorda certamente essa estreia. Qual foi e com quem foi a sua primeira prova?
Consegue-nos resumir como foi o seu primeiro rali?


SP: Comecei no dia 13 de janeiro de 1973 com o Fernando Bernardes, num simples VW 1302 sem qualquer preparação, no Rali do Sport Clube do Porto. A saída era da Pista de S. Caetano, em Gaia e a parte competitiva iniciava-se em Figueiredo, Arouca, fazendo a conhecida Freita
do Rali de Portugal ao contrário e, depois, Couto Esteves, já no concelho de Sever do Vouga, onde terminava a prova às três da manhã! Na altura não havia troços cronometrados, mas sim
controles apertados, isto é, tínhamos que andar depressa, na mesma. O papel do navegador era mais difícil que agora, pois tinha que tomar uma decisão importantíssima e no momento.
Eu explico: como era impossível cumprir a média de 60km/h em estradas florestais de terra como estavam e sem mecos, a organização dizia que eram 3 kms mas, por vezes, seriam 4, o que ia dar uma média bastante superior a esses 60. Havia em cada controle uma tolerância de
30 segundos o que provocava, por vezes, ser melhor esperar pelo minuto seguinte e controlar logo no início, para beneficiar dos 30 mais à frente, no controle seguinte. Era mesmo uma
decisão momentânea de muita responsabilidade.


AMM: O início da sua carreira acontece no lugar de co-piloto. Porquê a navegação?


SP: Como disse atrás e apesar de ter muita vontade de guiar em ralis, não tive outra maneira
de entrar e estar no desporto motorizado; apesar de, mais tarde, ter mostrado algum valor nas
vitórias em perícias, hovercraft, numa prova extra de Karting em Leiria andei no início 3º atrás
de dois pilotos de F1 (Tiago Monteiro e Pedro Matos Chaves Chaves), ter ganho uma corrida
em 1977 no Circuito de Vila do Conde ou aquele 3º no Rali de Estarreja de 1980 e na década
passada ter guiado o Peugeot 106 do Miguel Malafaya, nunca tive grandes hipóteses de
competir com um bom carro. Sendo assim, era melhor andar ao lado.


AMM: Nessa estreia, alguma vez imaginou conseguir criar uma carreira tão vasta e tão
duradoura de 51 anos?


SP: Era totalmente impossível nessa altura pensar nisso nem conseguir os Campeonatos e títulos que obtive. Tinha prometido em casa que, se ganhasse o título de navegadores em 87,
iria parar, mas tive que aceitar o convite do João Santos para o acompanhar no Lância. Seria a minha estreia em 4WD… e assim continuei até agora.


AMM: E qual é o segredo para se chegar a este invejável e admirável patamar?


SP: O segredo foi ter a sorte de ter acompanhado grandes amigos e sempre com uma postura
profissional e de uma forma divertida; se não fosse assim, não teria feito muitos ralis com os
mesmos pilotos; só com o Pedro Matos Chaves foram 51!


AMM: Mas a carreira do Sérgio passa também pelo volante, contando também com um rico
palmarés de provas enquanto piloto. Qual a função que mais gozo lhe dá, piloto ou navegador?


SP: Gosto é de andar lá dentro, mas prefiro ir ao lado de um piloto rápido e divertido, apesar
de ter guiado em muitas dezenas de provas de desporto motorizado e, por vezes, com muito
bons resultados.


AMM: E nunca ponderou tentar fazer uma carreira “a sério” como piloto em vez de navegador?


SP: Tentei, mas nunca consegui valores em patrocínios capazes de fazer uma carreira como
piloto “a sério”.


AMM: São 51 anos de corridas, muitas experiências, imensas histórias para contar. Ao longo destas 5 décadas, de todos os pilotos que navegou, qual ou quais destaca e porquê?


SP: Sem qualquer dúvida, o Pedro Matos Chaves, pela maneira como estava nos automóveis.
Uma pessoa completa. Como piloto, quando fomos fazer testes a Génova, sede da Grifone de Farízio Tabaton em janeiro antes do início da época de 1998 num troço de cerca de três
quilómetros onde o Andrea Aghini testava também e conhecia já aquilo como as suas mãos,
tirámos notas, corrigimo-las e começámos a andar cada vez mais depressa com o carro que
iríamos fazer os dois primeiros ralis, o Celica GT-Four. Saímos de lá 0,2 segundos melhor que o
grande piloto do Europeu e Mundial! No Esso/Fut.Clube do Porto, o primeiro dele em terra,
ganhámos dois troços! Haveria mais a dizer dele, mas fico por aqui. Quero destacat também a
companhia do Fernando Bernardes, do Carlos Alves, do Tomás Mello Breyner, do Jorge Félix,
do Jorge Serra, do Madureira Marques, do José Pinto, do Rufino e do José Pedro Fontes, do
Evandro Bernardes, do Ferreira da Silva, Vitor Lopes, do Rui Azevedo, do Mex Machado dos
Santos, do João Anfrade, com quem ganhei o último Campeonato, em 2022.


AMM: E sobre as provas em si, há alguma prova (ou temporada) que lhe tenha dado particular gosto correr como navegador? A mesma questão, enquanto piloto…


SP: Foi o Rali Dão-Lafões de 2000, onde se decidia o Campeonato entre nós e o Adruzilo Lopes/Luís Lisboa, ambos em carros WRC. Foi decidido no último troço a nosso favor. Como
piloto, o Rali de Estarreja de 1980, pois nas verificações não tinha ninguém para me
acompanhar; a minha ideia era ir com o Fernando Bernardes mas ele recusou, dizendo que eu
era maluco… Acabou por ir o dono do carro, o Fernando “Nani” Faria no seu Datsun 1200 que
me tinha alugado por 12 500$00! Ainda deu tempo para passar nos troços, que se faziam entre
Estarreja e Sever do Vouga em duas secções (tarde e noite) e ficámos em 3º da geral entre uns
sessenta concorrentes.


AMM: Há alguma prova (rali ou outra modalidade do desporto automóvel) que nunca tenha
participado mas que gostaria de o ter feito?


SP: Gostaria de ter participado no Rali da Austrália ou Nove Zelândia por ser do outro lado do
mundo e dizerem-me bem deles.


AMM: E sobre os carros mais marcantes em que correu, qual ou quais os que que mais gozo e
desafio lhe proporcionaram?


SP: Sem dúvida o Toyota Corolla WRC e o Renault Clio S1600, ambos com o Pedro Matos Chaves, para além do Porsche 997 GT 3 com o Mex Machado dos Santos.


AMM: Olhando agora para a evolução dos ralis em geral e do WRC em particular, que análise
faz do panorama dos ralis atuais? Considera que a evolução tecnológica dos carros e o próprio
formato dos ralis são um fator de atratividade para o público ou até para que novos construtores apostem no campeonato?


SP: Tem havido evolução tecnológica que beneficia depois o carro do dia a dia; no WRC a organização tem mostrado uma pobre aposta no Campeonato e o resultado é termos provas
com muito poucas marcas, bem como pilotos. Talvez com custos mais baixos ter-se-ia mais
aderência.


AMM: E sobre a nova regulamentação recentemente aprovada para 2025 e 2026, com um
“downgrade” previsto para os carros da categoria máxima (menos potência, extinção do sistema hibrido, possibilidade de evoluir os Rally2 para Rally1), qual a sua opinião? Acha que
estas medidas podem ajudar à entrada de novas marcas a nível oficial?


SP: Penso que sim, que vai resultar, pois será mais barato e haverá mais equilíbrio e competitividade entre os concorrentes.


AMM: Fala-se igualmente na criação logo que possível de uma categoria para carros 100% elétricos no WRC, e quando se fala em carros elétricos entre os adeptos dos ralis, geralmente esse é um tema algo polémico e nada consensual. Pode-nos dar o seu ponto de vista sobre
este tema?


SP: Acho que se deve experimentar, apesar de os elétricos não darem aquela adrenalina a que estamos habituados com o “cantar” dos motores. Por outro lado e como já disse atrás, deve haver soluções bem testadas em competição para os carros do dia a dia que nos beneficiam a
todos.


AMM: Assistimos no WRC dos últimos anos a um formatar dos ralis para esquemas bastante
similares, pensados sobretudo para as transmissões televisivas e obviamente o Rali de Portugal segue igualmente essa tendência. Qual a sua opinião sobre o formato dos atuais ralis, cada vez
mais concentrados e com menor quilometragem competitiva?


SP: Tenho saudade dos 3 ou 4 mil quilómetros em linha que o Rali de Portugal tinha antigamente, com muitos troços noturnos, mas concordo que sejam agora mais curtos e concentrados, o que baixa muito os custos. Gostaria apenas que os reconhecimentos fossem
com três passagens, para uma maior segurança e rapidez; uma seria para tirar as noas, e segunda para as corrigir e uma terceira para anotar os perigos que naquelas duas passagens não se vê, como pedras ou troncos escondidos…


AMM: O que falta ao WRC para que este volte aos seus tempos áureos, com mais construtores e a popularidade que já teve no passado (por exemplo no tempo dos Grupo B)?


SP: Os custos são enormes e naquela época havia dinheiro para investir; agora com a crise a coisa
esta dificil. Talvez daqui a um ano as coisas mudem com as novas regras.


AMM: Este ano o Campeonato do Mundo de Ralis estreou um novo sistema de pontuação que
tem gerado alguma discórdia. O que pensa o Sérgio sobre esta nova atribuição de pontos?
18, 15, 13 e 10 porquê, na geral? Não entendo porque razão há uma diferença de três pontos
entre o 1º e 2º e entre o 3º e 4º e do 2º para o 3º, 2. Não estou de acordo. Em relação aos pontos de domingo vamos ver. Talvez haja mais competição assim.


AMM: Falando agora do Rali de Portugal em específico, muita coisa mudou ao longo dos anos
e tendo o Sérgio participado por várias vezes na prova certamente terá uma melhor noção
dessas mudanças. Acha mais desafiante o rali no atual formato “sprint” ou antigamente com mais dias de competição e mais quilómetros, era mais entusiasmante disputar o Rali de Portugal?


SP: Fiz 26 edições do Rali de Portugal desde 1979 até 2006 e desde as quatro etapas incluindo aquela de Sintra que por vezes foi feita no fim da prova, a vinda à Póvoa, a tarde e noite no Minho, a ida para Viseu e o regresso ao Estoril… adorava esse esquema! Eram dias e noites seguidas sem quase descanso, mas com a adrenalina sempre em alta. Gostei, na mesma, de
fazer as últimas edições em que participei.


AMM: Elogiado por todos, o Rali de Portugal é uma das melhores provas do calendário do ponto de vista organizativo. Para si quais são os pontos fortes da prova portuguesa?


SP: Desde o tempo do César Torres que Portugal tem um Rali de respeito e “copiado” em outros lados do mundo. O arranjo das estradas por onde se passa, a beleza das paisagens, o profissionalismo que é colocado em cada ponto da organização. O rigor e a hospitalidade foram sempre valores muito importantes. Pena é o acesso, agora, ser muito restringido, talvez demais em muitos casos, ao público.


AMM: Sabemos que o formato do rali tem de obedecer a regras bastante limitadoras. Se fosse possível “esquecer” essas regras e pudesse desenhar o rali ao seu gosto, o que mudaria no atual formato?


SP: Para contenção de custos, penso que as limitações que observamos estará bem, mas gostava que se fizesse anualmente um rali à moda antiga e acho que iam aparecer muitos pilotos dessa época e também de agora.


AMM: Dos atuais troços que têm sido habitualmente disputados nos últimos anos, qual
considera ser aquele que marca a diferença e que proporciona o maior desafio aos concorrentes?


SP: O troço da Tronqueira, em S. Miguel, é normalmente decisivo em termos de classificação
final. É um grande desafio.


AMM: Qual a importância do Rali de Portugal para a modalidade no nosso país? Considera que ter o rali inserido no calendário do campeonato português é uma mais-valia para a competição nacional?


SP: É bom ser pontuável para o Campeonato português, pois é uma competição onde os
pilotos de cá se “debatem” com os melhores do mundo, na sua categoria. A visibilidade é que poderia ser maior em termos mediáticos no nosso país, principalmente a nível televisivo.


AMM: Para a edição deste ano, e olhando ao que tem sido o campeonato até ao momento, quem acha que poderá sair vitorioso no Rali de Portugal 2024? Tem algum favorito?


SP: Em termos de favoritos gostava que o José Pedro Fontes estivesse lá em cima, pois foi o único piloto atual que acompanhei e com quem iria fazer o campeonato de 1998, mas ele aceitou que fosse com o Pedro Matos Chaves e o pai é um grande amigo de há muito e conterrâneo, com quem fiz também dois ralis. Gosto de todos e qualquer um será capaz de
vencer e ficarei contente, na mesma.


AMM: E sobre os ralis em Portugal? É uma modalidade com um futuro risonho, na sua opinião?


SP: No Campeonato português nota-se, na maior parte das provas, um número razoável de
inscritos e, nos últimos anos, tem-se registado uma luta até ao fim, o que torna uma modalidade muito querida e seguida pelo público.


AMM: Considera a atual regulamentação dos ralis e o atual escalonamento dos diversos campeonatos adequada para a realidade portuguesa? O que mudaria na sua opinião para revitalizar a modalidade?


SP: Todos os fins de semana temos provas de automobilismo, nos seus vários escalões de competição espalhadas por todo o país; por um lado é bom, mas acho muitas provas e muitas classes em que se dividem todos os carros numa competição. Acho que, para se começar,
deveria haver um campeonato de iniciação, em carros menos potentes.


AMM: Temos no Campeonato de Portugal entre os pilotos da frente uma média de idades já
algo “elevada” e vemos cada vez menos novos valores a conseguir singrar no escalão máximo
dos ralis nacionais. Na sua opinião o que falta para que mais jovens com talento consigam
construir uma carreira e possam pensar em altos voos em Portugal?
SP: É verdade que tem havido poucos pilotos a subir ao mais alto escalão; os que lá estão já há
vários anos conseguem melhores apoios por serem mais falados nos “mídia” e raramente um
outro mais novo atinge esses valores capazes de subir ao topo, por não seres tão conhecidos.
Seria bom haver uma maior cobertura para estes.
AMM: O que acha que poderia ou deveria ser feito para levar os jovens pilotos portugueses
mais promissores a singrar nos ralis a nível internacional?
SP: Tem havido por parte da Federação uma ajuda através de Troféus de marcas, que querem
promover jovens pilotos, o que é de saudar; terá que haver uma maior e imprescindível
cobertura mediática também.
AMM: Qual ou quais acredita serem os jovens pilotos da atualidade com maior potencial para
chegarem um dia a campeões nacionais?
SP: Aposto, entre outros, no João Andrade, com quem andei desde 2019 até 2002, ano que
conquistou o Start Norte, o que podia ter acontecido já no ano anterior, mas no Rali de Vila
Nova de Cerveira e após termos vencido os dois primeiros troços, no Citroen Saxo, a caixa
cedeu na ligação para a assistência…
AMM: Nunca ponderou candidatar-se a um cargo federativo e dar o seu contributo e a sua
experiência para melhorar o desporto automóvel em Portugal?
SP: Já me perguntaram isso, mas nunca pensei nisso nem pensarei; seria um cargo, qualquer
que fosse, de muita responsabilidade e, com esta idade, poderia não ser capaz de satisfazer;
estou na idade de, sem nenhum stress, viver aquilo que me falta viver.
AMM: Voltando agora a falar do Sérgio Paiva e da sua carreira, o Sérgio é conhecido pelo
homem dos mil ofícios no desporto automóvel. Já foi piloto, continua a navegar em ralis,
esteve ligado à comunicação social, trabalhou / trabalha na área organizativa… O que sente
que ainda lhe falta fazer no desporto automóvel e nos ralis em particular?
SP: Como gosto de estar perto, já passei por muitas modalidades, tanto como participante,
como ajudando Clubes; no início dos anos 70 organizei algumas provas de perícia em Lourosa
cujos fundos revertiam para os Bombeiros da terra, de onde fiz parte como condutor, várias
vezes com o Rufino Fontes. Em 84 andei sempre com a Ford e a Diabolique no “Onde está o
Ás”, bem como em 85 na reintrodução da Fórmula Ford em Portugal e, ultimamente, com a
ADAVC (Associação de Desporto Automóvel de Vila do Conde) em alguns ralis como
controlador. Penso que estive em (quase) todas as frentes deste desporto.
AMM: Apesar de não estar com tanta regularidade nos ralis, a sua carreira ainda não está
terminada em definitivo e continuamos a ter o Sérgio Paiva nas listas de inscritos dos nossos
ralis, ainda que de forma esporádica. Continua a sentir motivação para correr?
SP: Já era tempo de parar, mas ainda irei este ano no Troféu Kia com o Pedro Gastão Silva,
piloto jovem que comecei a acompanhar em 2023; não pude recusar o convite do pai… será a
52ª época de participações anuais no desporto motorizado, ininterruptas1
AMM: Lançou num passado recente o primeiro volume do livro “50 anos passaram a correr”,
uma obra que retrata a sua longa e histórica carreira. Como gostaria que as próximas gerações
recordassem o Sérgio Paiva?
SP: Os amigos que me conhecem pessoalmente diria que vão recordar-me como “um gajo
porreiro” e divertido, que gostava de ajudar quem dele precisava.
AMM: Tem algum sonho ligado ao desporto automóvel que gostaria de concretizar?
SP: Está bom assim, já! Fiz e gostei do que fiz e basta.
AMM: Para terminar, e porque esta é já uma pergunta tradicional de encerramento das nossas
entrevistas ao longo dos anos, que conselhos gostaria de transmitir aos nossos leitores e ao
público em geral que se vai deslocar aos troços para ver o rali?
SP: Continuem a acompanhar com respeito e em segurança, pois as equipas que andam lá
dentro a fazer o que podem gostam de sentir o apoio de muita gente; nos intervalos devem,
sempre que possam, ir às assistências e cumprimentar os concorrentes.